Por Maria Reis Gonçalves

É incrível a capacidade do ser humano em se recuperar de situações criticas, acreditar que tudo passa e, que dias melhores estão por vir. Não foi fácil esses últimos dois anos. Primeiro veio a pandemia da Covid-19, que surgiu como uma fúria catastrófica e ceifou milhares de vidas, contaminou milhões de pessoas e ainda persiste no nosso meio. A pandemia mostrou a fragilidade orgânica do ser humano e a sua incapacidade para entender o que estava acontecendo em todo o mundo. Saímos de 2020 para 2021, com o estigma de uma doença que parecia não ter fim.

No entanto, aos poucos, estávamos nos habituando a conviver com essa doença e a estabelecer metas e objetivos para o novo ano que se aproximava, acreditamos em nosso potencial e nas pesquisas científicas que logo nos trariam uma resposta para combatermos com eficácia o vírus que assola nosso planeta. Com otimismo, íamos seguindo a nossa caminhada, trabalhando, estudando, vendo as situações difíceis e aceitando os desafios que a todo instante atestavam a nossa capacidade de sobreviver. O ano de 2021 chegava aos seus últimos meses, e com ele um rugido furioso da natureza, chuvas fortes caem em terras baianas e mineiras, pronuncio de alagamentos começam a aparecer.

O povo baiano está acostumado com o céu ensolarado, temperatura alta, um calor que às vezes sufoca; quando a chuva cai, ficamos alegres e até mesmo, em alguns momentos, dançamos na chuva. A seca sempre foi um problema, mas como somos pessoas fortes, sabemos enfrentar com otimismo essas mudanças climáticas. No entanto, nos meses de novembro e dezembro, final do ano de 2021, a chuva que caiu foi maior do que as chuvas do ano inteiro e consequentemente vieram as cheias.

A cidade onde moro, Itabuna, na Bahia, só teve notícia de uma enchente parecida, no ano de 1967, onde a cidade foi devastada pelas águas.

E, 54 anos depois, na mesma data, noite de Natal, onde as famílias preparam a ceia natalina para a confraternização, as águas do Rio Cachoeira transbordaram de tal maneira que atingiu a maioria dos bairros que ficam a suas margens ou às margens dos córregos que cortam a cidade. Foi um verdadeiro caos. Despreparada, a cidade não teve como suportar, foram casas invadidas, moveis perdidos, residências derrubadas e vidas ceifadas. Houve clamor, choro e desesperança, gente que perdeu tudo, que ficou só com a roupa do corpo, muita gente desabrigada.

Nessa hora, a solidariedade da própria comunidade, fez a diferença. O povo, não só de Itabuna, veio ajudar e a toda região atingida, a todas as outras cidades que estavam na mesma situação. As cidades do Sul da Bahia, ainda estão devastadas, boa parte de Itabuna, começa a ser reconstruída, no entanto ainda temos muita gente desabrigada. Para os que perderam tudo, a esperança é o único lenitivo.

Mas, somos resilientes, o nordestino é um povo forte, e aprendeu a se adaptar às mudanças que ocorreram ao longo da vida. Estamos começando a enfrentar as adversidades e buscando refazer o que for necessário. Agora é hora de ir à luta e trabalhar para reconstruir o que foi perdido. Nesse contexto em que nos encontramos, ser resiliente é primordial para o enfrentamento da crise que vivenciamos. É através da nossa força de superação que iremos em busca de alternativas e novas formas de acreditar em nosso potencial de reestruturação pessoal.

As pessoas resilientes sabem bem como ser otimistas, aguerridas, confiam na sua própria capacidade transformadora, e como vencer esses desafios que hoje se apresentam.

As perdas materiais serão reconquistadas, não tenho dúvida, só é preciso paciência, perseverança e muito trabalho. Nesse momento em que estamos no olho do furação é que devemos deixar aflorar a nossa capacidade resiliente, abrir a nossa mente para o novo.

Sabemos que é muito difícil quando as coisas mudam abruptamente, quando tudo o que conhecíamos desaparece muito rápido, quando toda a nossa segurança já não mais existe. Porém, com nossa capacidade de renovação, com calma suficiente e muita sabedoria e trabalho, podemos modificar todo o cenário que hoje nos assola e, juntos, sairemos dessa crise que nos pegou de surpresa e nos tirou o chão.

Pois, só com muita paciência, calma e tranquilidade, iremos reconstruir nossas vidas e conquistar todos os nossos objetivos pensados para o ano de 2022, e assim agradecer a Deus, por todas as coisas que recebemos, pois em tudo devemos dar Graças.

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Maria Reis Gonçalves (Tia Nem) é psicóloga