Por Domingos Matos

Ainda haveremos de conhecer, a partir de algum estudo sociológico, o que representou na vida da população pobre a ascensão da extrema direita no Brasil. Depois de um ano de governo Bolsonaro – logo após ao período do golpista Michel Temer – o que se sabe, de maneira ainda desorganizada e intuitiva, é que a vida piorou muito para os trabalhadores em geral.

Todos os setores onde o pobre demanda atenção do governo, pioraram. Se olharmos para o INSS, caos no atendimento e fila, como há muito não se via. Na saúde, desmonte do SUS, falta de vacinas e de medicamentos que antes eram ofertados de maneira suficiente nos postos de saúde. A educação básica sequer executou o orçamento previsto para o ano de 2019; as universidades, antes solução para o desenvolvimento do país, viraram inimigas, que devem ser combatidas a todo custo.

A economia, por sua vez, é a confirmação do que o presidente, quando candidato, já dizia: que nada entendia da matéria. O problema é que ele dizia também que tinha um gênio para o ministério, que era quem, de fato, pensaria nessas coisas. Pois bem: o “Posto Ipiranga” pensa(?), mas tudo o que dali sai, é contra o pobre.

O desemprego, a carestia, os juros, tudo indica que estamos no caminho errado. Os índices do próprio governo mostram que a atividade econômica vai de mal a pior. Os indicadores da indústria caíram em 11 das 15 áreas observadas. O endividamento das famílias e a inadimplência, em todos os segmentos – das pequenas empresas ao aposentado – só cresce. Os números do varejo chegaram a ser maquiados, no fim de 2019, para mostrar que o comércio vendeu mais no período natalino, e o caso acabou indo parar na justiça.

O pobre – e aqui o conceito de pobre é relativo àquele que não detém os meios de produção, ou seja, todos nós que não somos os donos do capital, mas da força de trabalho – de uma forma ou de outra será chamado a fazer essa reflexão: e aí, sua vida melhorou ou piorou com essa nova ideologia? Inclusive os pobres que apoiam este governo.

Os trabalhadores que se deixaram levar por um discurso (falso) de combate à corrupção, por um apelo à “decência”, aos bons costumes, a uma guerra que ele nem mesmo sabe para que serve, essa tal guerra ao “politicamente correto”, todos hão de prestar contas à sua própria consciência. Estamos melhores ou piores? A propósito: o que há de mais indecente do que uma família passando fome?

Para quê serviu tudo isso? Para quê serve uma “guerra cultural”, quando o filho não consegue emprego, nem mesmo acesso à educação superior, gratuita ou financiada. Quando a família não consegue comprar ou trocar de carro, moto; não consegue finalizar a construção da casa ou viajar para rever os parentes? Para quê, afinal de contas, embarcar em uma onda de doutrinação moralista, quando sequer temos o necessário à sobrevivência?

Acaba de fechar mais uma empresa de grande porte na região, o Makro Atacado. Isso depois de o governo implantar as medidas que dizia serem contra o desemprego – que, no fundo, eram só um estímulo ao emprego precário, sem direitos, mas nem a esse fim atendeu.

O sociólogo que se debruçar sobre esses temas haverá de chegar, muito provavelmente, a uma conclusão que se mostra a olhos nus: a extrema direita só serve ao capital, aos ricos. Os pobres, nesse governo, não passam de um estorvo. O próprio presidente Jair Bolsonaro tem repetido que é muito difícil ser patrão no Brasil. Isso porque nem ele nem sua família nunca souberam o que é ser trabalhador em um país cujo governo odeia seu povo.

Domingos Matos é jornalista, editor de O Trombone