Passa por interesses pessoais, muito mais do que por preocupações logísticas, a mudança de rumo na condução da crise do coronavírus apontada por Juvenal Maynart em sua carta de pedido de exoneração do Hospital de Base. As pressões dos médicos falaram mais alto, e a cidade pode virar o epicentro da disseminação da Covid-19 na Bahia.
O Hospital de Base atende a cerca de 160 municípios, que representam 1 milhão e 700 mil habitantes. Por ser unidade de portas abertas, não recusaria quem, desse universo, procurasse atendimento, infectado ou não pelo coronavirus. Ao se misturarem infectados e os que estivessem ali por outros motivos clínicos, o risco de infecção cruzada pelo coronavírus seria altíssimo.
O Trombone apurou que a mudança de hospital de portas abertas para unidade referência em atendimento da Covid-19 iria desabrigar muitos médicos. Cirurgiões buco-maxilares, neurologistas, ortopedistas e outros “istas” seriam deslocados para a UPA 24 horas, desde que demandados por aquela unidade.
Isso desagradou à Turma do Jaleco. Não é segredo para ninguém que há um grande jogo de interesses, que movimenta – ou trava – o Hospital de Base, de acordo com a vontade de alguns renomados médicos daquela unidade. Observando os comentários nas redes sociais, é possível colher, aqui e ali, algumas pistas do que acontece por detrás das cortinas. O perfil Nilda Cirilo de Santana foi “na mosca”, ao comentar em uma postagem do ex-prefeito Geraldo Simões no Facebook (ipsi literis):
“Estão simplesmente atendendo à vontade de meia dúzia de médicos, que não honra o jaleco que veste, tem muito profissional da saúde que bateu o pé e não aceitou a mudança. O governador do estado, dentro das leis e da orientação da OMS, não deveria aceitar essa atitude por parte da prefeitura municipal de Itabuna. O povo grapiúna não merece essa descaso . Está na hora de botar essa meia dúzia de profissionais ,que não tem compromisso com a saúde e a vida do ser humano, no lugar deles ! O mundo está vivendo uma realidade dramática e esse povo tem que acordar, Chega! Mais amor por favor. Itabuna merece.”
Não se sabe quais argumentos os médicos usaram para convencer o prefeito Fernando Gomes a contrariar um acordo já firmado e já em execução com o governador Rui Costa, de quem se diz “amigo pessoal” – o termo é usado para não se comprometer com as convicções políticas de Rui, petista, e manter a relação conveniente e assepticamente no limite da “gestão”.
Há quem relate um mundo de intrigas e chantagens entre a Turma do Jaleco e os inúmeros gestores que o Hospital de Base, e a própria pasta da Saúde, já viram passar nesses quase 3 anos e meio de mandato de Fernando Gomes. O fato é que, como unidade exclusiva para coronavírus, muitos profissionais e seus equipamentos seriam dispensados.
Quanto a isso, foi tentada uma solução, por meio de uma Chamada Pública, para que esses especialistas passassem da condição de prestadores de serviço Pessoa Jurídica para servidores do Hospital de Base, equiparados a funcionários concursados. Não só rejeitaram a proposta, como a derrubaram, via liminar, conseguida na Justiça por meio de uma ação patrocinada por um grande escritório de advocacia da cidade. Estariam na linha de frente do combate ao coronavírus, mas preferiram conversar com Hipócrates somente através de seus advogados.
Diante de tudo isso, ficam algumas perguntas: os 40 leitos de UTI, os 60 leitos clínicos, todos equipados com respiradores, ainda virão para o Hospital de Base? Os pacientes levados para o Hospital Regional Costa do Cacau voltarão ao Base e ficarão junto com os casos suspeitos de coronavirus até a finalização do Hospital São Lucas?
O fato é que o Hospital de Base, exclusivo para coronavírus atenderia a um público de 800 mil pessoas, apenas com uma necessidade. Agora, volta a atender o público de 160 municípios, com um público de 1 milhão e 700 mil pessoas, que podem procurar o hospital com qualquer necessidade, inclusive para coronavírus, ao mesmo tempo, no mesmo local.
Após tudo isso, o prefeito Fernando Gomes pegou mais 30 dias de férias e sumiu do município. Vai cumprir sua quarentena bem isolado dos problemas do povo.