Walmir Rosário | [email protected]
Há uma diferença enorme entre o planejamento de uma operação militar e a administração de uma cidade. Infelizmente, os patrocinadores e os marqueteiros de sua campanha esqueceram de dizer isso ao então candidato a prefeito de Itabuna, Capitão Azevedo. Passados quase dois anos e ele, sequer, se apercebeu das diferenças, o que o faz cometer alguns desatinos que a política não costuma perdoar.
Enquanto numa operação de guerrilha as ações são planejadas para demonstrar ao inimigo conhecimento do terreno, situação privilegiada de controle do domínio no sentido de amedrontá-lo, minando o adversário aos poucos, na política a inteligência trabalha de forma bem diferente. A ideia na primeira situação é espalhar, diminuindo forças, enquanto na política a “ordem” é juntar todos no mesmo terreno. “Ciscar pra dentro”, dizem os experts.
Tal e qual numa operação de guerra, Capitão Azevedo continua amealhando desafetos, criando inimigos (muito mais do que adversários), enquanto poderia construir colaboradores, atropelando os ensinamentos deixados pelo pensador florentino Nicolai Machiavelli (ou Maquiavel, como o chamamos por aqui). Dizia com muita propriedade o filósofo italiano que, caso o político queira praticar uma “maldade”, faça-a de imediato, de uma vez só, para não dar tempo à reação, bem como para que o próprio tempo se encarregasse de fazê-la ser esquecida.
Aqui pelas bandas de Itabuna, não. O prefeito faz de modo inverso ao pregado por Machiavelli. Pratica suas maldades aos poucos, ameaçando suas vítimas, fazendo com que eles se unam e possam criar defesas. O mais esquisito disso tudo é que as vítimas são os próprios servidores públicos municipais, ocupantes de cargos comissionados, nomeados pelo prefeito para ajudá-lo a governar a cidade.
A cada exoneração efetivada, o prefeito pratica tortura em outros servidores, que não sabem se no dia seguinte poderão exercer o sagrado direito de trabalhar para sustentar sua família. O terrorismo praticado contra os ocupantes de cargos comissionados também atinge os servidores de carreira, pois, juntos, planejam e executam serviços. Os projetos em andamento param e complicam os serviços prestados à população.
Não é de hoje que o prefeito Capitão Azevedo tem dado demonstração de sua falta de intimidade com a administração pública. Já passados dois anos à frente do executivo municipal, desconhece completamente a estrutura administrativa composta pelos cargos comissionados que nomeou, e mais, sua importância vital para implementar a linha de ação do executivo em suas diversas pastas.
Ao invés de comandar a Prefeitura de Itabuna em sentido macro, prefere passar o dia nas obras, como se fosse um simples “cabo-de-turma” a instigar os operários a não “fazer cera” durante o período do expediente. Preocupa-se com coisas miúdas; enquanto as questões macro passam ao largo, às questiúnculas do varejo é dada importância descomunal.
Certo que administrar uma cidade como Itabuna é uma tarefa hercúlea. É fundamental uma equipe com capacidade e comprometida, liderada por um político que eleja metas e cobre o cumprimento delas. Hoje o quadro do governo é de um secretariado (alta gerência) disperso e sem rumo definido – salvo raríssimas exceções -, um grupo de comissionados (gerência média) sob o clima do terror, no aguardo de uma próxima lista de desafetos, pois o exercício de suas atribuições com compromisso e dedicação já não lhes garante a certeza do cargo ocupado.
Quanto ao contingente dos demais servidores do quadro efetivo (a peãozada, os pés-de-boi) completamente desestimulados, assistindo ao desrespeito aos seus direitos, efetivado pela quebra de compromissos firmados e assumidos, junto às lideranças sindicais e ao próprio Ministério Público do Trabalho.
A eleição do Capitão Azevedo a prefeito de Itabuna foi considerada um marco na história da cidade e representava uma esperança de renovação política, um rompimento com o passado. Mas, aos poucos, o encanto da população deu lugar a um sentimento de desânimo, desalento.
O político mostrado como o novo foi se despindo de sua elegante fantasia para aparecer em traje normal, em roupagem carcomida e impregnada dos costumes, vícios e erros do passado. Pior do que isso, é que passada a fase de encantamento, não só a população “caiu na real”, mas também o próprio personagem protagonizado por Azevedo não teve fôlego ou argumento para se sustentar.
Conto aqui uma passagem antes da posse de Azevedo. Ao chegar ao Jornal Agora para conceder uma entrevista a esse articulista e ao jornalista José Adervan, foi perguntado qual o motivo do seu momentâneo desaparecimento. E ele respondeu: “Somente agora caiu a ‘ficha’ do que é ser prefeito de Itabuna”. Realmente, essa foi uma demonstração do total despreparo para o cargo. Espero não ter que retomar esse assunto.
Walmir Rosário é jornalista, advogado e editor do site Cia da Notícia.