Adylson Machado

Neste 2010 os nomes de Alcides Franco e José Petitico ecoam nas alegrias familiares e reverberam na imprensa, como o torrão que os abriga, pela circunstância da centenariedade.

Para a cidade que há cem anos se enfeitou menina e logo viu tornar-se eixo de especial atenção como entroncamento da malha rodoviária regional, ofuscando a mãe Ilhéus em importância, tudo correu como bênçãos de Deus.

O comércio aproveitou a existência da força cacaueira e expandiu seu centro de referência. Todos almejavam estar/viver em Itabuna, o El Dorado sulbaiano.

Não mais somente os desbravadores sergipanos ou os árabes que aportaram no final do século XIX. Médicos, advogados, dentistas, engenheiros e arquitetos, legítimos ou adotados, traziam no íntimo a determinação de fazê-la grandiosa e forjavam os pilares para torná-la nação.

O limiar do novo milênio encheu-a de esperança e sonhos. A saúde pública seria de primeiro mundo; água tratada para os filhos pelos próximos 50 anos; a estrutura de saneamento básico ampliada; a pavimentação aproximaria o centro dos bairros não centrais, fazendo-os mais fartos de autoestima; a educação não se bastaria de primeiros e segundos graus, mas, como novo pólo de prestação de serviços, seria a redenção, alimentado com a imediata possibilidade de implantação de uma Universidade Federal; a industrialização ocuparia novos espaços, com a então expectativa de tornar-se centro de distribuição de energia; sua cultura, redimida com a criação de uma casa só para cuidar de seus valores, se tornaria turística por ter sido palco das lutas das terras-do-sem-fim, como as nominara um filho seu.

Obras grandiosas se ensaiaram: a cobertura do Lava-pés; a possibilidade da extensão da alvenaria nas margens do Cachoeira, ampliando a lâmina d’água de seu coração até os limites da saída para Ilhéus; a construção de uma barragem, no Colônia, que alimentaria de água seus habitantes e geraria energia elétrica para reduzir custos de sua empresa de abastecimento.

Uma outra, no entanto, dava a dimensão do orgulho de quem, em dez anos, alcançaria idade invejável: a Avenida do Centenário, que margearia a direita do Cachoeira, desde a rótula Tancredo Neves até a BR-101, abrindo novo acesso rodoviário à cidade.

Não se imagine que em uma década não houve tempo para preparar especialíssimo bolo de aniversário. As circunstâncias, entretanto, negaram ao grapiúna os ingredientes que o fariam, vaidoso como nunca, comemorar a idade que só será inesquecível por força de sua existência.

No entanto, para a cidade privilegiada por tudo, destinada a glória, com uma vontade danada de ser cada vez maior, que ofuscou Ilhéus por seus próprios méritos, resta continuar sonhando. Afinal, ela pode esperar pela próxima centúria, diferentemente de Alcides e Petitico.

É que o primeiro centenário fica assim, como unha encravada ou joanete: incomodando… Na lembrança pelo que não se fez e poderia ter sido feito. Doendo, para não esquecer!

Quanto a uma outra avenida comemorativa, para que tanta exigência? Temos a Cinqüentenário com um curativo bem recente. Ainda que doendo…

Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de "Amendoeiras de outono" e "O ABC do Cabôco", editados pela Via Litterarum