“O que tem de ser traz força”. (Prof. Luís Rogério de Souza)

Por Carlos Eduardo Sodré

O ano eleitoral de 2024 – em Itabuna, como de resto em todo o país – aparentemente ainda está distante e sujeito, por óbvio, aos fluxos e refluxos da maré política, sendo o tempo o fator mais natural a reger o processo, como de sabença geral dos que militam nessa complexa atividade. Como natural, a realidade posta já exibia, de saída, um quadro que, como ponto de partida, para análises, ilações e projeções, se constituía no que de mais palpável para isso.

Isso era o que se tinha, embora com concretude transitória.

No caso de Itabuna, partindo-se dos polos políticos tradicionais existentes (O Prefeito e o “caixa” da prefeitura; o fernandismo e o geraldismo) e, abrindo espaço à consideração de nomes que, mesmo não hajam criado ainda lideranças, além do principal nome emergente (o deputado estadual Fabrício “Pancadinha”), compõem um bloco de legítimos aspirantes (Dr. Mangabeira, Cap. Azevedo, Dr. Isaac e o vice-prefeito Guinho) ao cargo de chefe do executivo municipal.

O quadro pré-eleitoral local (que a louvável iniciativa do jornalista Paulo “Índio” Lima é o único condimento que, mesmo sem profundidade, o tem temperado com as reuniões vesperais no chamado “Senado do Café Pomar”), afora as insofridas tentativas do atual prefeito de, a custo milionário, tentar reduzir a alta taxa de rejeição que ostenta (mais que 70%), no entanto, só produziu até agora dois efeitos de grande impacto e reverberação, com consequências mensuráveis, no tabuleiro.

Antes de analisar os dois fatos cuja expressividade impactou o curso pré-sucessório, comporta mencionar, para delineamento, que o polo representado pelo prefeito Augusto Castro, arrimado na estrutura pública municipal e no que resta de uma popularidade corroída pela renitente – senão crescente – rejeição, busca, ou cooptando instrumento de comunicação ou pessoas atraídas para os quadros funcionais da gestão; ao lado disso, há a consideração à existência histórica do polo fernandista cujo protagonista único e chefe, ao desaparecer sem ter criado uma liderança que o sequenciasse no comando do grupo, por não ter deixado herdeiro político, o seu espolio eleitoral tende a diluir-se em múltiplas direções, em inevitável fragmentação; o terceiro polo, geraldista, cuja força eleitoral experimentou, em pleito recente, uma redução quantitativa, hibernou até agora quando os ventos da política voltaram a soprar de forma reanimadora para o petismo, com as vitórias na Bahia e no Brasil, do governador Jerônimo e do presidente Lula, componentes de inquestionável significação e inafastável reflexo nos pleitos eleitorais vindouros, mormente no nordeste e no nosso estado.

Mas, como assiste razão a quem disse que “a política é como nuvem; ora está ali, logo mais pode estar acolá”, eis que, entre nós, nos últimos sessenta dias, um discurso do chefe do executivo estadual, numa inauguração de obra, ensejou – por manifestar a decisão de “apoiar o prefeito” – foi tomada por este, de forma descontextualizada, desvirtuando-lhe o sentido, para tentar incutir a idéia de uma antecipação de definição de apoio do governador à sua reeleição. Essa atitude produziu dois efeitos: o primeiro, a entrada em cena do nome do deputado Fabrício “Pancadinha”, com sensível velocidade, justificado pelo fato de que a política não comporta vácuos e os eleitores que rejeitam o prefeito, à míngua de outra alternativa relevante, inclinaram-se para o deputado; de outra parte, fez precipitar a decisão do ex-prefeito Geraldo Simões de se colocar no rol de postulantes à cadeira de chefe do executivo municipal, influindo no tabuleiro sucessório a ponto de garrotear o ímpeto nascente do nome do citado deputado e começar a atrair antigos adversários e um expressivo volume dos que rejeitam o prefeito, a ponto de fazer cair vertiginosamente a taxa de sua própria rejeição.

Outro fato, hoje ocorrido, de relevância estratosférica, cujo impacto norteará poderosamente o curso do processo eleitoral itabunense, se traduz pelo encontro reservado e de caráter estritamente pessoal, mas de poderoso efeito político, entre o presidente Lula e o ex-prefeito e velho amigo, Geraldo Simões.

Dessa forma, cabe, numa síntese, concluir que: o polo do prefeito, às voltas com indisfarçável má vontade e desgaste coletivos, não consegue ver desidratados os índices elevadíssimos de sua rejeição – com festas e tudo; o polo fernandista órfão de chefia, em diáspora de impossível estancamento, se compondo com outras áreas, por conexões individualizadas; o polo geraldista mercê do trabalho artesanal do ex-prefeito, de casa em casa, bairro a bairro, reeditando o começo de sua carreira de contato com as bases, agora tonificado – ou catapultado ? – pelo “café da manhã” com o presidente Lula, já de amplo domínio público que, além de atropelar o processo sucessório, definiu previamente para onde se inclinarão as forças e os esquemas dos governos estadual e federal, sinalizando o que isto poderá representar de vantagem para tirar Itabuna do presente caos e declínio e “dar a volta por cima” em direção ao topo da classificação dos municípios baianos em cuja tabela já foi o terceiro e agora é o oitavo, sem falar na vergonhosa queda dos índices sociais da vida de nossa população.

Os demais candidatos, à falta de expressividade e de perspectivas, não ameaçam a tríplice polaridade: Prefeito Augusto Castro, Deputado Fabrício “Pancadinha”, ex-prefeito Geraldo Simões. Evidenciado que o prefeito foi rifado com a manifestação do presidente da República, apostará com chances quem comprar pule num confronto final Geraldo Simões x Deputado Fabrício.

A política é encantadora porque é dinâmica e misteriosa porque, há noventa dias, não se imaginava esse desfecho. Não só os mistérios da política renderam essa tessitura, como o ex-prefeito Geraldo Simões tão vergastado, xingado, humilhado, fez de sua postura serena, silenciosa e paciente a arma para atravessar os maus momentos e, agora, ressurgir como a ave “fênix”, fagueiro, sabendo que na volta dos ponteiros do relógio do tempo, retornaria a “sua hora”, certo de que “o que tem de ser traz força”!

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Carlos Eduardo Sodré é advogado