Esse acordar tardio do vereador Clóvis Loiola, que só agora, um ano e oito meses depois, se apercebeu de que algo na Câmara não cheirava bem, não cola nem aqui nem China. O que move o presidente é algo bem menos romântico do que essa tentativa de se passar pelo mártir que aceita cortar na própria carne para moralizar a casa onde ele próprio é o chefe.

Primeiro, um esclarecimento: Clóvis Loiola não neófito em política. Pelo contrário. Ele foi assessor de ninguém menos que o lendário Pedro Egídio, aquele das dentaduras, das notas de R$ 50 rasgadas ao meio e de outras estratégias para garantir o voto de incautos eleitores em suas sucessivas eleições.

Ele ainda teve outras participações na Câmara, antes de ser eleito, assessorando gente menos tarimbada que Egídio, já foi funcionário público – era da Ebal, alguém lembra? – e ganhou esse mandato do "povo da periferia" – a  maioria mulheres, algumas menores -, que fez piseiro numa certa maternidade de Itabuna, não se sabe bem para quê. Dizem que era gente que paria como coelho.

Então, o que move Loiola, nesse repentino ‘animus denunciandi‘, depois de ter se esbaldado em restaurantes, hotéis e viagens à custa do erário, como denunciou o vereador Ricardo Bacelar? Lógico: algo maior que restaurantes, hotéis e viagens à custa do erário, e atende pelo nome de "Mesa Diretora – 2011/2012".

O alvo é a Mesa Diretora da Câmara, senhores. E aí entram as peças do jogo de xadrez, cujo tabuleiro foi montado pelas bandas da avenida Princesa Isabel: o novo diretor-administrativo, Antônio Carrero, que até ontem tinha como missão vigiar o secretário da Saúde, Antônio Vieira, além dos outros assessores diretos de Loiola em cargos estratégicos.

Mas, ainda faltaria algo, um detalhe que Loiola não conseguiria pensar sozinho para levar o plano adiante: o modus operandi. Tem um advogado por trás do homem-coragem Clóvis Loiola. O texto que ele leu hoje, no programa Bom dia, Bahia, da rádio Nacional, à guisa de respostas às perguntas do entrevistador Ederivaldo Benedito, estava coalhado de expressões típicas de advogado mau redator.

Agora, quem será o advogado que pode, ao mesmo tempo, ter interesse e poder para convencer Loiola a se queimar politicamente, assumindo barbaridades mil, a fim de garantir que a Mesa Diretora no biênio 2011-2012 esteja sob o controle do Executivo municipal? Só pode ser alguém bastante sedutor, que consiga, num único golpe, prender o prefeito e o presidente da Câmara sem, sequer, botar a cara na rua.

Acostumado com o outro lado da situação, Loiola foi, por assim dizer, seduzido pelo canto da sereia. E, pra se livrar da encantada do mar, o cabôco deve deixar muitos presentes para ela. Será que ele consegue cumprir tudo o que prometeu aos seus mentores?