Por Lanns Almeida – Artigo 01

“Gerar” ou proporcionar dignidade faz-se tão imediato e necessário no Brasil, e em nosso caso específico, o de Itabuna, como nunca se fez nos últimos 120 anos. Dignidade antecede a geração de renda, a movimentação do comércio ou da economia. Dignitas, do latim, faz referência ao valor do indivíduo como ser humano.

Com 213.685 habitantes (população estimada pelo IBGE em 2020) Itabuna se aproxima do seu aniversário de fundação, há quase 111 anos, e nos choca (pelo menos a mim, e muito) o fato de termos 93.174 dos nossos irmãos Itabunenses cadastrados no CAD Único. Ou seja, 43% da nossa população está abaixo da linha da pobreza, e 19,8% em situação de extrema pobreza. Assim, precisamos inaugurar A OBRA, ou um programa popular de inclusão e dignidade para Itabuna. Uma obra que urge e que, moral e humanamente, precisa ser inaugurada. Fácil? Não é! Mas, POSSÍVEL? Temos convicção de que sim. Nessa direção escreveremos e proporemos, uma série de ações para debatermos, opinarmos, ouvirmos o contraditório, e qualificarmos o discurso e a ação para uma Itabuna Digna e Inclusiva.

Itabuna, bem como os demais municípios do nosso Território Litoral Sul, possui uma importante peculiaridade em relação ao restante do Estado: estar permeada pelo conhecimento – UESC, CEPLAC, UFSB, IFBA, IFBAIANO, FTC, UNIME, UNOPAR, dentre outros indispensáveis institutos de educação. Uma excelente concentração de ciência, tecnologia, inovação, aliados ao saberes locais de uma população trabalhadora, lutadora e de muitas resistências. “Beber dessa água”, “Ouvir dessa água” e “Utilizar dessa água” é um caminho salutar – talvez o principal caminho nesse cenário descrito de vulnerabilidades e exclusões para o qual o estado Brasileiro empurra seus cidadãos.

Um dos primeiro tópicos, na proposta de dignidade e geração de renda à nossa população, principalmente essa população que mais precisa, é a inclusão, através de uma forte Aliança Cooperativada, nos bairros onde estão as maiores concentrações e bolsões de pobreza (sim, o Sistema do CAD Único pode fazer esse dramático “filtro”). E hoje, no primeiro artigo dessa série, vamos falar da Aliança Cooperativa de Serviços Urbanos.

Quem conhece Itabuna, anda por Itabuna, e tem empatia (ou seja, se coloca no lugar do outro, na posição de dor do outro) sabe bem dos problemas urbanos que os nossos bairros possuem. E se existem problemas é porque existem soluções. Abramos os olhos e pensemos: Santa Clara, Horta, São Lourenço, Baixa Fria, Vale do Sol, Maria Pinheiro, Lomanto, Novo Lomanto: ruas de terra esburacadas, esgoto correndo a céu aberto, ausência de arborização, de calçadas. Agora pensemos também: e se esses moradores e moradoras (muitos e muitas desempregados e naquela situação declarada de pobreza e extrema pobreza) pudessem ser capacitados, qualificados, e produzissem a infraestrutura para urbanizarem seu próprio bairro, sua própria rua, através de uma cooperativa deles próprios? E se a prefeitura, o poder municipal, através de uma série de editais fizesse chamadas públicas para esse projeto (ou programa)? Bebendo da fonte e da experiência que a EMASA tem, e bebendo de todas as fontes citadas nas instituições de ensino superior e técnico podemos realizar. Penso muito nessa questão, me pego nos bons sonhos de uma gestão que possa ter, primeiramente a coragem e a sensibilidade de “topar” esse bom desafio, pois quando se quer, se faz! Assim com editais bem articulados, bem produzidos, com disponibilização de recursos para equipamentos, materiais, contratação de pessoal, aluguel de máquinas, contratação de cursos, teríamos um início de pequenas boas revoluções pontuais e inclusivas, unidades de produções urbanísticas do cidadão cuidando do espaço e do território dele. É desafio porque extrapola a lógica do convencionalismo gerencial (ou gestor) de pagar salários em dia (um desafio atual com a degradação pela qual o Brasil passa) e da austeridade “atual” proposta (fico com o Papa Francisco que diz que austeridade é para bancos privados). Podemos não ter recursos próprios para fazer tudo que Itabuna precisa, mas temos condições e recursos para iniciarmos inclusões cooperativadas aos que mais precisam.

Cidades como Araraquara, no Estado de São Paulo, têm demostrado ao Brasil que com empatia, sensibilidade, competência e a inversão de prioridade, a inclusão é possível. É a terceira geração de prefeitos do Partido dos Trabalhadores, do jeito petista de governar, que tanta falta faz ao Brasil.

Lanns Almeida é itabunense, engenheiro agrônomo, companheiro de Cidinha, pai de Dudu e Victor, filiado ao Partido dos Trabalhadores