Marcos Bispo Santos

Desde o início de 2011 temos convivido, eu e vários colegas professores, com alguns casos de estudantes com perturbações mentais na Escola Lourival Oliveira Soares, em Ferradas (Itabuna). Não sei se aceitamos por falta de opções e pela ausência de acontecimentos como a tragédia na Escola Municipal do Rio de Janeiro. Ao menos, um de nós, uma professora da mesma escola, sempre esteve incomodada com o fato e recentemente me confidenciou que um deles contou na sala que foi parar na escola em que leciono, porque na outra em que ele estudava (antigo Sítio do Menor), arremessou uma cadeira numa professora grávida, que perdeu o bebê. Ele saiu daquela escola, mas nada sofreu em termos de sanções ou mesmo um internamento em alguma casa apropriada de saúde.

Pois bem, na noite da última quarta-feira (13), dois outros dos esquizofrênicos da Escola – vamos chamá-los de “A” e “T.” –, perturbaram minhas aulas de Linguagens ao máximo, como aliás, sempre fazem. Todavia, motivado ou conscientizado pelos acontecimentos do Rio de Janeiro, resolvi (após falarem muito alto, de tráfico de drogas, bater em carteiras e coisas do tipo), chamar a vice-diretora do noturno.

Pois bem, logo após ela constatar as alterações inaceitáveis para um ambiente de aula, de leitura e reflexões, ou mesmo qualquer outra com um educador que se respeite, os suspendeu. Eles me esperaram do lado de fora e, em companhia de um suposto traficante, fizeram várias ameaças.
Obviamente, esta é tão somente “a ponta de um iceberg”, que insiste em “furar os cascos” do “barco náufrago”, que denominamos educação pública.

Não há saídas possíveis porque não há debates sérios e com os verdadeiramente envolvidos no dia-a-dia das Escolas. Nas jornadas pedagógicas e encontros afins, são sempre chamados os mestres, “doutores” e teóricos que, “blá, blá, blá”, falam de livros que leram, frases belíssimas… Mas tudo continua como antes nas “escolas de infantes”.

Recursos, dinheiro, livros bons e em quantidade, ambiente seguro e agradável, isso não há. Concomitantemente, há parlamentares com salários reajustados em 60%, juízes ameaçando greve para ter os seus reajustados em 35% e gente acumulando 60 horas na Educação e fazendo de escolas, como a de Ferradas (esta do fato que vivenciei e por ora narro), um “bico”.

Já telefonei para o celular da vice-diretora na mesma noite. vou entrar com um recurso, um processo, algo assim, amanhã mesmo, contra a insegurança da Escola e a permanência destas pessoas na unidade de ensino, sem qualquer acompanhamento de um assistente social, um psicólogo, um psiquiatra ou mesmo alguém da coordenação pedagógica. E mais, não irei à Escola no dia seguinte se a vice-diretora não me der garantias e não acionar a Ronda Escolar.

Fica o registro, a denúncia e mais este desabafo.

Marcos Bispo Santos é professor da rede pública municipal de Itabuna e diretor do Colégio Estadual da Aldeia Indígena Caramuru Paraguaçu, em Pau Brasil