Adylson Machado

Adylson MachadoPara tristeza deste escriba, singelo observador – que tem se afastado de algumas rodas de conversa e comentário para não ouvir falarem mal das pessoas que preza – não deixa de incomodar a reação de muitos que lhe são próximos – refletindo amostragem do que está ocorrendo em nível de formação de opinião em Itabuna – sobre Geraldo Simões, liderança maior do Partido de Trabalhadores local. Parece-nos que se esvai, não tão lentamente, a imagem conquistada à duras penas pelo político. Ainda que tributássemos a crítica a questões pessoais (e parcela considerável não se encaixaria neste viés), temos que a “pessoalidade” se torna “coletividade” crítica.

Certo que em dezoito meses muita água rolará no cenário da sucessão de 2012, crucial para algumas lideranças. Umas em ascensão, outras lutando por espaço, sem falar-se naquelas que buscam manter o solo conquistado e que o veem turbado ou esbulhado. No entanto, a condução do processo constituir-se-á a chave da porta que abrirá ou o Céu ou o Inferno do futuro eleitoral para muitos.

Razão por que não recomenda a boa política – leia-se, o comportamento do bom político – ofertar postura que alimente a interpretação de arrogância, o que caía bem em ACM. Repercussões em tal seara (a arrogância) costumam se multiplicar e crescer como bola de neve montanha abaixo.

Ainda que não pareça ético transferir responsabilidades por derrotas é direito do político opinar em torno delas. Mas seria recomendável a autocrítica. No caso particular de GS há em sua carreira uma marca indelével e estigmatizante que é a derrota de Juçara em 2008 – útil pelas lições deixadas e não pelas seqüelas que transitem entre a mágoa ou o ressentimento – que não pode ser analisada sob o calor das emoções ou invectivas eminentemente pessoais.

2008, particularmente, pode e deve ser visto mais em razão de erros decorrentes de decisões políticas e menos do marketing da campanha. Um deles, para nós crucial, reside na busca do apoio do Capitão Fábio quando este começava a dar sinais de enfraquecimento na campanha. Quando Fábio dispunha de meios para sustentar a caminhada Juçara batia a todos com folga. Quando começa a despencar, os votos migram para Azevedo. E não vamos aqui tributar à simpatia deste ou daquele candidato o móvel de avanço ou queda.

E todos sabem que o enfraquecimento da corrida fabista foi por ele mesmo tributada à falta de apoio financeiro, onde Gedel Vieira Lima seria o responsável maior. Daí porque, assim enxergamos, o erro crucial de Geraldo naquela campanha foi não alimentar financeiramente a de Fábio. E a causa mortis, anunciar seu apoio às vésperas da eleição, quando precipitou a adesão dos fabistas a Azevedo e ampliou sua votação sobre Juçara, a ponto de alcançar desmoralizantes 11 mil votos de vantagem. Ou seja, naquele instante, Geraldo Simões – ao trazer Fábio para o seu lado – uniu e concentrou forças contra Juçara.

Não custaria nada a GS fazer essa autocrítica. Melhor que culpar esse ou aquele. 

Seu comportamento atual – que nada aparenta de tática, logística ou estratégia política – parece mais aprofundar divisões. E precisa compreender que não está com o mesmo cacife. Nem mesmo dentro do PT estadual encontraria o mesmo apoio que encontrou em tempos mais pretéritos. Não fora isso, interessa ao projeto do PT baiano a continuidade da ação do governo Wagner. Para isso, o PT isolado não irá a lugar nenhum.

Daí porque os problemas de alianças do PT de GS em Itabuna são problema de Geraldo. Para o governo estadual não interessa, e não aceitará, é que dissensões locais afetem a sucessão de Wagner e a continuidade do projeto de poder. Se assegurar, em nível estadual, a coligação que lhe interessa, sabendo que em nível municipal repercutirá favoravelmente na eleição estadual, as dissensões locais ficarão nos limites da província.

Nesse caso GS está caminhando na contramão da realidade. O que nos permite concluir que seu projeto, como está posto, não o é para Itabuna, mas eminentemente pessoal. Dizemos isso em razão do fato de que se prevalecesse o “amor a Itabuna” não haveria necessidade de “impor” a noiva para o casamento, mas demonstrar que seria a melhor para futura convivência, abrindo espaços para bom relacionamento com o cunhadio.

Temos, particularmente, que a não-reeleição de Geraldo em 2004 acarretou um prejuízo de trinta anos para o futuro de Itabuna, irrecuperáveis no curto prazo. Mas, ainda assim, com todas as virtudes administrativas que desenvolveu em suas gestões, estranha que não seja lembrado pelo que fez, mas pelo que pretende fazer. E não deve fazer campanha para 2012 como se fosse aquela “zebra” de 1992, quando o discurso torna-se obsoleto. Fernando Gomes, em 1992, era alvo fácil de atacar; Azevedo, ainda que prefeito, não é FG daquela eleição, até porque estará na base do Governo Estadual. Os tempos são outros, diversos em todos os aspectos. Assim, a disputa entre GS, FG e Azevedo é meramente local, provinciana e em nada interessa ao projeto estadual. Não pedimos que renuncie à sua função de criticar o adversário, mas de perceber que – como observou Marx – a história só se repete como farsa.

Sua atuação recente demonstra que o crescimento e prestígio político de que gozava, construídos no curso dos anos de forma merecida e justa, não vêm traduzindo ânimo de continuidade e não se amplia no imaginário do eleitor itabunense.

Os fatos que sustentam essa análise são palpáveis: ainda que ocupando cargos relevantes na administração federal e estadual (CODEBA e SEAGRI) não traduziu ações em votos. Isso é facilmente comprovado: dos quase 90 mil na eleição de 2006 viu despencarem para 75 mil em 2010. Daqueles 35 mil em Itabuna, apenas 23. Em nível de estado não ganhou um só voto, antes perdeu em torno de pelo menos dois milhares.

Aparenta descendente a votação/prestígio de Geraldo. E essa circunstância é acompanhada e atentamente ponderada pelo Partido em nível estadual. Que certamente observa suas reações com preocupação.

Por outro lado, Geraldo dá sinais de que não está ouvindo opiniões. Duas deduções decorrem de tal postura: ou não tem pessoas em quem confiar ou sente-se todo-poderoso. Com riscos de – numa crise psicológica – imaginar-se Todo-poderoso!

Não é bom sinal!

_________________

Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de “Amendoeiras de outono” e ” O ABC do Cabôco”, editados pela Via Litterarum