Por Domingos Matos

Quem é protestante sabe. Mesmo quem não o seja, mas que se preocupe minimamente em observar a vida ao seu redor, ao se deparar com um chamado “evangélico” trajando vistosos ternos e portando um exemplar da Bíblia Sagrada em tamanho desproporcional à idade/acuidade visual, logo imagina: “eis um novo crente”. Como tudo que é novo tende ao extrapolo, da conversão religiosa ao namoro, a conversão política também salta aos olhos pelo exagero típico.

Isso pode ser comprovado na visita que o governador Rui Costa fez a Ilhéus e Itabuna. Na Terra de Gabriela, aonde primeiro chegou para vistoriar a ponte e entregar obras e convênios, foi recebido por uma típica comitiva de novos convertidos. À frente da missão, gravata vermelha, ninguém reconheceria o prefeito de Itabuna, fernando Gomes, se não soubesse – ou deduzisse – de sua condição de neo petista.

Prudentes dirão que é “apenas” um novo costista, um adepto do governador Rui Costa, dependente que sempre foi de governadores estaduais em seus infindáveis mandatos como prefeito de Itabuna. Mas aquela gravata vermelha não era sem motivo. Não demora será filiado – por Salvador – no Partido dos Trabalhadores.

Para reforçar esse entendimento, outro sinal, pouco discreto, emitido pela figura mais emblemática da direita itabunense – visto que Fernando tem esse lado governista que não lhe confere uma identidade ideológica permanente – Maria Alice Pereira ostentava um conjunto vermelho.  Vermelho mesmo, como muitos petistas nem vestem, justo por serem petistas, e não neo petistas. Claro, era para afirmar nas imagens, que sabia que circulariam pelas redes, a sua disposição à futura filiação. Mera formalidade, já que se considera petista (de Salvador) de primeira hora.

(Mas esse blogueiro se orgulha – humildemente – de ter feito a melhor sequência de imagens para traduzir tudo o que vai escrito até aqui. Elas podem ser conferidas ao final do texto).

Não se sabe, pela impossibilidade natural, se Deus fica contente com os novos convertidos na medida dos exageros que esses cometem, ou se prefere o low profile dos crentes antigos. Mas, em termos mundanos e políticos, esses novos fieis foram um regozijo para o líder. Tanto que Rui Costa confirmou publicamente o que muitos acreditavam ser um blefe fernandiano, como tantos outros até confessados pelo próprio: o governador vai participar do aniversário do prefeito, nessa sexta-feira.

O “culto” da quinta-feira (28) em Ilhéus teve esse enredo, senhores. Uma romaria, novos convertidos louvando fervorosamente e comportando-se de maneira exagerada na adulação. Porém, tudo movido por um sentimento nada ecumênico e pouco recomendável para espíritos superiores, como diria o papa do ateísmo (Nietzsche): a vingança.

Irmandade mais volátil, impossível.

_____________

Domingos Matos é jornalista e blogueiro, editor de O Trombone